Projetos
- Agentes Mirins da Saúde Multiespécie (AM-SAME).
- Revitalização da Praça da Amizade.
- SAME translúcida.
- Teoria do comportamento planejado e higienização das mãos por crianças e adolescentes do Jardim São Remo, São Paulo, SP.
- Documentação participativa da vivência da pandemia de COVID-19 no Jardim São Remo, São Paulo, SP.
- Dimensões da violência contra animais de companhia praticada e presenciada por crianças e adolescentes.
- Vigilância de doenças negligencias em áreas silenciosas.
- Bem-estar de animais de companhia.
- Prevenção de mordeduras.
- Educação ambiental.
- Prevenção de zoonoses e doenças transmitidas por alimentos.
Agentes Mirins da Saúde Multiespécie (AM-SAME)
O projeto Agentes Mirins da Saúde Multiespécie (AM-SAME) está trabalhando a promoção da saúde multiespécie com a participação de adolescentes de duas favelas do município de São Paulo: Jardim São Remo, na Zona Oeste, e, Serra Pelada, na Zona Norte. À semelhança des Agentes Comunitários de Saúde e des Agentes de Promoção Ambiental, es adolescentes do projeto trabalham como agentes comunitários. O olhar e a inserção des AM-SAME, nas suas respectivas comunidades, são diferenciados em virtude da condição de adolescentes, moradores, e integrantes de instituições socioculturais e educativas dos territórios em que atuam. Atualmente, es AM-SAME estão envolvides em: (1) atividades de diagnóstico situacional que articulam diversas metodologias de mapeamento participativo, (2) rodas de conversa, (3) organização e realização de oficinas de promoção da saúde multiespéce, (4) revitalização de uma praça e (5) implementação da fase piloto de um sistema de monitoramento de indicadores de saúde.
Revitalização da Praça da Amizade
A vinculação territorial mediada pelo cuidado multiespécie é indissociável da promoção da saúde multiespécie. Durante a pandemia de Covid-19, a Praça da Amizade (Praça da Dona Eva) da favela São Remo, um lugar com valor histórico e simbólico no território, foi dramaticamente danificada. Como disse o Eraldo, “houve uma chacina de árvores, acabaram com a casa de um monte de passarinhos, as abelhas estão sofrendo”. O papel do Eraldo da Silva e da Camila Santos, moradores da São Remo, tem sido inestimável para a revitalização da praça. É nesse contexto que a Rede SAME, convocada para ajudar na revitalização e manutenção da praça, tem se mobilizado para articular esforços comunitários, pedagogias periféricas e saberes acadêmicos entorno da amizade da praça.
SAME translúcida.
Encontro que organizamos com es nosses grandes amiges de Juegos Translúcidos, o Dumangue do Centro Cultural Riacho Doce e o Ericsson Magnavita. Brincadeira, transparência, cores, música e improvisação numa vivência mágica da SAME.
Teoria do comportamento planejado e higienização das mãos por crianças e adolescentes do Jardim São Remo, São Paulo, SP.
A lavagem das mãos é um procedimento que ajuda a prevenir zoonoses e outras infecções. Entretanto, a lavagem deve seguir um procedimento específico para maximizar a efetividade preventiva e as pesquisas demonstram que até profissionais de saúde têm dificuldade para seguir esse procedimento. Pouco se sabe sobre comportamentos preventivos nas periferias urbanas e a lavagem de mãos não é uma exceção. Sendo assim, esta pesquisa avaliou a lavagem das mãos praticadas por crianças e adolescentes que frequentavam o Circo Escola no Jardim São Remo, um espaço público com função social inestimável, que infelizmente foi abandonado durante a pandemia, acumulando deterioro nas instalações e gerando ansiedade na comunidade, que no entanto, está lutando organizadamente para resgatar o Circo Escola. A pesquisa valeu-se a teoria do comportamento planejado para investigar de que forma a lavagem das mãos é influenciada pelas atitudes (vantagens/desvantagens que as crianças veem na lavagem das mãos), as normas subjetivas injuntivas (aprovação/reprovação de referentes sociais – p. ex. os amigos acham bobagem lavar as mãos?), as normas subjetivas descritas (exemplo dado pelos referentes sociais – p. ex. os adultos mais importantes na vida das crianças lavam as mãos quando usam o banheiro?) e o controle percebido (controle sobre as condições necessárias para lavar as mãos – p. ex. acesso a lavatório, sabonete etc.). Os resultados apontam possibilidades e limitações para promover higienização das mãos entre crianças e adolescentes das periferias urbanas. A pesquisa foi desenvolvida por estudantes e docentes da SUP e já entrou em processo de publicação.
Documentação participativa da vivência da pandemia de COVID-19 no Jardim São Remo, São Paulo, SP.
A priorização de populações em maior risco de sofrer agravos de saúde é um dos pilares da epidemiologia moderna, sendo outro dos pilares o rigor dos métodos quantitativos e a qualidade dos dados utilizados. O descaso ao que são submetidas as periferias se traduz não na exposição, mas na imposição de fatores de risco e as faz prioritárias do ponto de vista epidemiológico. Entretanto, do descaso também surge a falta de informação e assim o comprometimento de um dos pilares mencionados. A essência dos modelos epidemiológicos é a simplificação da realidade e frente aos impasses trazidos pela marginalização das periferias, uma simplificação conveniente para poder aplicar esses modelos é assumir que as periferias não existem. Porém, uma coisa são os modelos epidemiológicos e outra a realidade epidemiológica. Periferias, desigualdades, iniquidades, decisões políticas e interesses corporativos podem ser ignorados nos modelos, mas isso não os elimina da realidade epidemiológica que determinam. Retomando a prioridade que deve ser dada às periferias, esta pesquisa etnográfica aborda um ponto básico e mesmo assim largamente ignorado na epidemiologia da Covid-19: como tem sido a vivência da pandemia segundo os próprios moradores das periferias? As respostas estão revelando sérias dificuldades para qualquer tentativa de controle restrita ao uso de máscaras, de álcool, e ao distanciamento social de 2 metros. Ao considerar coletivos multiespécie marginalizados, o estudo reforça algo que tem sido esquecido, quando não completamente ignorado: a Covid-19, como outras pandemias, surgiu a partir de coletivos multiespécie marginalizados e está afetando múltiplas espécies em diversas periferias. A pesquisa é financiada pela Fundação Tide Setubal e vem sendo realizada pelo Grupo de Pesquisa das Periferias do Instituto de Estudos Avançados (nPeriferias) por Oswaldo Santos Baquero, Júlia Amorim, Sara da Silva (Faculdade de Medicina – FM-USP), Dora Barrientos (Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH-USP, nPeriferias-IEA-USP), Ana Claudia Germani (Faculdade Medicina – FM-USP, nPeriferias-IEA-USP) e Gislene Santos (EACH-USP, nPeriferias-IEA-USP).
Dimensões da violência contra animais de companhia praticada e presenciada por crianças e adolescentes.
Por que algumas crianças presenciam e praticam atos violentos contra animais mais do que outras? Para contribuir à resposta, este estudo está integrando teorias psicológicas, validação psicométrica de questionários e modelagem estatística. Quem desenvolve a pesquisa é a Juliana Tozzi de Almeida e o Oswaldo Santos Baquero.
Vigilância de doenças negligenciadas em áreas silenciosas.
Algumas doenças estão relativamente restritas às periferias, afetando bilhões de pessoas e animais de coletivos marginalizados. Apesar da ordem de grandeza, a indústria farmacêutica pouco investe nessas vítimas porque são economicamente pobres e não atendem às expectativas de geração de lucro. As organizações internacionais falam de doenças negligenciadas, mas no fundo o que se tem são coletivos multiespécie sujeitos por múltiplas negligências. De qualquer forma, as doenças também são negligenciadas e subnotificadas, gerando um questionamento: nas áreas silenciosas (sem nenhuma notificação) de um município não há casos ou há e não foram identificados? Na presente pesquisa estão sendo usados modelos estatísticos espaciais para predizer a quantidade de casos de esporotricose felina nas áreas silenciosas do município de Guarulhos, a partir da situação epidemiológica das áreas vizinhas e da vulnerabilidade social das próprias áreas silenciosas e das áreas vizinhas. A equipe é composta por Lígia Neves Scuarcialupi, Fernando Cortéz Pereira (Centro de Controle de Zoonoses de Guarulhos) e Oswaldo Santos Baquero.
Bem-estar de animais de companhia.
Um censo que realizamos e no qual estamos trabalhando para publicar os resultados mostrou que no Jardim São Remo há mais animais de companhia que crianças. Muitas pessoas consideram esses animais como parte da família. Assim, cuidar dos animais de companhia, além de necessário pelo valor intrínseco que têm, é necessário para o bem viver das famílias. A ciência do bem-estar animal ajuda a legitimar a exploração dos animais no agronegócio. Contudo, faz importantes contribuições como a conceituação das cinco liberdades, pelas quais indica que os animais devem ser:
- livres de fome, sede e desnutrição;
- livres de desconforto;
- livres de dor, doença e injúria;
- livres de medo e estresse e;
- livres expressar os comportamentos naturais da espécie.
Por meio de uma série de encontros com crianças e adolescentes do Circo Escola, essas liberdades foram objeto de brincadeiras, rodas de conversa e diversas outras atividades. Os dados de um questionário sobre o assunto estão sendo objeto de pesquisa sobre as formas como crianças e adolescentes entendem manifestações e práticas relativas às cinco liberdades.
Prevenção de mordeduras.
Os espaços pequenos e o sedentarismo, assim como a privação de alguns estímulos e o excesso de outros, predispõem a relações familiares disfuncionais. A isto se soma o desconhecimento do comportamento animal que leva a falhas de comunicação, e no caso dos cães, a mordeduras que chegam a ser fatais. Na maioria das ocasiões os cães manifestam comportamentos de alerta que poderiam evitar agressões físicas. Porém, quando são ignorados podem progredir a ataques com múltiplas consequências: ferimentos físicos; traumas psicológicos; elevados custos de tratamento cirúrgico, farmacológico e psicológico; maltrato, abandono e até morte dos cães agressores e; infelizmente, morte de vítimas humanas. Os acidentes com crianças têm maior probabilidade de serem graves e portanto deve-se investir na identificação e criação de espaços propícios para interações seguras entre crianças e cães, e na identificação dos comportamentos de alerta que permitem evitar acidentes. Embora os acidentes com gatos sejam geralmente de menor severidade, também podem ser graves e evitados seguindo o mesmo raciocínio. Por tal razão, as interações saudáveis e a prevenção de mordeduras foram um eixo trabalhado em encontros com crianças e adolescentes do Circo Escola do Jardim São Remo. Neste projeto contamos com a colaboração da Rosangela Ribeiro Gebara
Educação ambiental.
Ao trabalharmos educação ambiental, devemos considerar que não há uma única abordagem, um debate padronizado ou soluções prontas. Cada comunidade, cada público e cada ambiente tem suas peculiaridades. Assim, as crianças e adolescentes do Circo Escola ajudaram-nos a compreender alguns desafios da São Remo. Com elas estabelecemos diálogos e reflexões para incentivar atitudes coletivas e pensar soluções praticas para problemas cotidianos que ao afetarem o ambiente, impactam também os seres que nele vivem e convivem. Além do mais, realizamos mapeamentos para identificar os locais mais problemáticos do território, desenvolvemos atividades de conscientização junto à empresa (Loga) responsável pela coleta de resíduos domiciliares e visitamos o aterro sanitário gerido pela empresa.
Prevenção de zoonoses e doenças transmitidas por alimentos.
A importância das zoonoses entende-se ao ver que 75% das doenças infecciosas emergentes em humanos têm origem animal e 60% das doenças infecciosas humanas existentes são zoonóticas. Além disso, os alimentos de origem animal ou contaminados com patógenos zoonóticos também são uma causa importante de doenças. As medidas de prevenção individual são bem conhecidas, contudo, muitas perdem sentido em contextos periféricos. Como é recebida a recomendação de manter secos os pires dos vasos de plantas para prevenir arboviroses, quando há casas construídas sobre córregos a céu aberto nos quais se despeja o esgoto e as construções domiciliares não protegem contra alagamentos de águas poluídas? Ou a recomendação de manter os animais de companhia dentro de casa para evitar múltiplas zoonoses e outros agravos de saúde, quando a estrutura física das casas não o permite e a área das mesmas é extremamente pequena? Quando as recomendações de praxe perdem sentido, é necessário pensar diferente, algo que temos apreendido com as crianças do Circo Escola durante encontros para conversar e construir estratégias preventivas contra zoonoses e doenças transmitidas por alimentos.